“Apelo”
Amanhã faz um mês que a Senhora
está longe de casa.
Primeiros dias, para dizer a
verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina.
Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por
engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite
primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de
jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um
corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah,
Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem
o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga
pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas
violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na
camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe,
sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para
casa, Senhora, por favor.
(Dalton Trevisan).
1. O gênero descrito acima é um romance, e sua tipologia é a narração. Uma das interpretações possíveis
para o título, “Apelo” seria de que o narrador:
a) Faz um apelo para que alguém
limpe sua casa, já que está sozinho.
b) Se dá conta da falta que a
mulher faz e apela para que ela volte.
c) Faz um apelo para que a mulher
o visite, às vezes, para manter a casa em ordem.
d) Se dá conta da bagunça da casa
e apela para que a mulher volte.
2. Assinale a alternativa, onde temos apenas representantes da prosa romântica.
a) Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar.
b) José de Alencar, Cruz e Sousa, Visconde de Taunay.
c) Joaquim Manoel de Macedo, Tomás Antônio Gonzaga, José de Alencar.
d) Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Machado de Assis.
3. Pela leitura do texto é possível perceber:
a) A satisfação de um homem em se ver livre da esposa.
b) A alegria de uma família com a separação entre o pai e a mãe.
c) A falta que a mulher sente do marido, desde sua saída.
d) A mulher nunca esteve presente nas coisas da casa.
e) O apelo de um homem à mulher que o abandonou.
4. O autor do texto apresenta uma linguagem que omite termos facilmente percebidos pelo contexto ou situação. Essa figura de linguagem é
denominada:
a) Metáfora.
b) Anáfora.
c) Elipse.
d) Sínquise.
e) Anacoluto.
5. Em: “Às suas violetas na janela, não lhes poupei água e elas murcham”.
O verbo da primeira oração está no pretérito, enquanto o da segunda
apresenta-se no presente. Isso se justifica porque o primeiro verbo:
a) indica que a ação está acabada, enquanto o segundo indica um processo em andamento no momento em que o narrador escreve: as flores
ainda estão murchas.
b) indica uma ação contínua e o segundo uma ação que já se findou.
c) indica um processo de volta no tempo e o segundo uma ação iniciada no momento em que o narrador escreve.
d) indica uma ação finda e o segundo uma ação a se iniciar.
e) indica um aspecto especial da situação, negada pelo segundo verbo.
6. Passando a oração “...calço a meia furada.” para a voz passiva, temos,
sem prejuízo do sentido:
a) Tenho calçado a meia furada.
b) A meia furada foi calçada.
c) A meia furada é calçada por mim.
d) A meia furada calçou-se.
e) Não é possível a construção na voz passiva
7. As palavras “amanhã”, ‘primeiros”, “batom” e “raivosas” pertencem,
respectivamente, às classes gramaticais que seguem:
a) Conjunção, adjetivo, substantivo e interjeição.
b) Substantivo, adjetivo, substantivo e adjetivo.
c) Verbo, advérbio, substantivo e numeral.
d) Pronome, advérbio, numeral e adjetivo.
e) Advérbio, numeral, substantivo e adjetivo.
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