Era uma vez...
- Era uma vez uma menina pobre, muito linda e boazinha, que morava com a madrasta malvada numa casa na floresta.
- Floresta? Floresta é uma coisa inteiramente ultrapassada. Chega dessa história de mato. De qualquer jeito, não é uma
imagem real de nossa sociedade. Vamos fazer alguma coisa urbana para variar.
- Era uma vez uma menina pobre, muito linda e boazinha, que morava com a madrasta malvada numa casa no subúrbio.
- Melhorou. Mas eu ainda queria questionar seriamente essa palavra pobre.
- Mas ela era pobre!
- Pobre é um termo relativo. Ela morava numa casa, não é mesmo?
- Morava.
- Então, de um ponto de vista socioeconômico, não era pobre.
- Mas o dinheiro não era dela! A história toda é justamente o que acontece quando a madrasta malvada faz ela se vestir
de roupas velhas e dormir na cinza da lareira...
- Ah, então tinham lareira! Vou te dizer uma coisa: quando o cara é pobre, não tem essa história de lareira. Venha
comigo até o parque, até as estações de metrô quando escurece, venha até embaixo do viaduto, ver aquela gente toda dormindo
em caixas de papelão. Aí é que você vai ver o que é pobre!
- Era uma vez uma menina de classe média, muito linda e boazinha...
- Pode parar. Acho que a gente podia cortar esse linda, você não acha? As mulheres hoje em dia já têm que seguir tantos
modelos físicos que intimidam.
[...] Para que aumentar a pressão? Será que você não podia fazer essa menina mais... digamos,
de acordo com a média?
- Era uma vez uma menina meio gordinha e dentuça, que...
- Não acho graça nenhuma em zombar da aparência dos outros. Além do mais, você assim está encorajando a anorexia.
- Eu não estava zombando, estava só descrevendo [...].
- Tudo bem, continue. Mas você podia fazer ela ser de alguma minoria. Pode ajudar.
(Ana Maria Machado)
1. A autora do texto recorre a uma situação do dia a dia para, predominantemente:
a) Provocar uma discussão sem objetivos.
b) Desencadear reflexões.
c) Criar um efeito humorístico no texto.
d) Citar fatos historicamente importantes.
e) Estabelecer a diferença entre homens e mulheres.
2. É adequado dizer que a história que a princípio seria contada está carregada de:
a) Conceitos pré-estabelecidos e imagens estereotipadas.
b) Ironias e críticas.
c) Situações do cotidiano próximas da realidade.
d) Melancolia e lirismo.
e) Espírito nacionalista.
3. “Mas você podia fazer ela ser de alguma minoria.”
O trecho destacado apresenta-nos uma discussão em torno de:
a) Valores éticos e religiosos da sociedade.
b) Questões sócio-culturais.
c) Padrões a serem seguidos, estabelecidos pela sociedade.
d) Segmento intelectual da sociedade, que seria a minoria.
e) Pessoas financeiramente privilegiadas compondo a minoria da população.
4. No 2º parágrafo, o comentário feito demonstra:
a) Uma preocupação com o meio ambiente, tendo em vista que estamos vivendo em tempos de aquecimento global.
b) Total apatia à questão ambiental, denominando-a ultrapassada.
c) Os aspectos reais de uma sociedade capitalista, industrial e culturalmente desenvolvida.
d) Um modelo mais próximo da realidade do que aquele apresentado anteriormente.
e) O jogo de interesses político-financeiros que se instaurou na sociedade atual.
5. O texto “Era uma vez” trata de um assunto gerador de conflitos através de um diálogo. É inadequado afirmar que
tal diálogo provoca:
a) Respostas objetivas e simplificadas, já que em um debate de idéias e opiniões divergentes é necessário que as erudições
filosóficas sejam deixadas de lado.
b) Uma aceitação em receber inovações, sugestões e alterações.
c) Questionamentos e pensamentos reflexivos por parte do seu interlocutor.
d) Rompimento com paradigmas tradicionais.
e) Segmentação da narrativa que a princípio seria tratada.
6. Assinale a opção em que todas as palavras apresentam dígrafos:
a) Pobre, linda, madrasta
b) Malvada, floresta, inteiramente
c) Boazinha, ultrapassada, chega
d) Dessa, qualquer, pobre
e) Nossa, subúrbio, melhorou
7. Assinale a opção em que as duas palavras apresentam sufixo formador de advérbio:
a) Inteiramente, seriamente
b) Boazinha, morava
c) Malvada, ultrapassada
d) Urbana, socioeconômico
e) Justamente, dormindo
8. Observe atentamente os trechos destacados a seguir:
I. - Mas ela era pobre!
II. - Pobre é um termo relativo.
As funções sintáticas exercidas pelos termos sublinhados nas orações são, respectivamente:
a) I – objeto direto; II – agente da passiva
b) I – objeto indireto; II – sujeito
c) I – complemento nominal; II – predicativo do sujeito
d) I – adjunto adnominal; II – adjunto adverbial
e) I – predicativo do sujeito; II – sujeito
9. De acordo com o estudo das orações subordinadas e as referentes conjunções que as introduzem, identifique a seguir
a alternativa que apresenta conjunção que expressa finalidade:
a) Vamos fazer alguma coisa urbana para variar.
b) - Era uma vez uma menina pobre, muito linda e boazinha, que morava com a madrasta malvada numa casa na floresta.
c) As mulheres hoje em dia já têm que seguir tantos modelos físicos que intimidam.
d) De qualquer jeito, não é uma imagem real de nossa sociedade.
e) - Então, de um ponto-de-vista socioeconômico, não era pobre.
10. É correto afirmar que a alteração na colocação da vírgula está correta e altera o sentido original da frase “Eu não
estava zombando, estava só descrevendo [...].”, em:
a) Eu não estava zombando, estava só, descrevendo.
b) Eu, não, estava zombando, estava só descrevendo.
c) Eu não, estava zombando estava, só, descrevendo.
d) Eu não, estava zombando, estava só descrevendo.
e) Eu não estava zombando estava, só, descrevendo.