Atividade Ensino Médio. O Casamento da Lua - Vinícius de Morais

 

O casamento da Lua


O que me contaram não foi nada disso. A mim, contaram- me o seguinte: que um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes, começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente. E de tanto olharem através de seus telescópios, os bons e velhos sábios foram assumindo um ar preocupado e seus olhos já não sorriam mais; puseram- se, antes, melancólicos. E contaram-me ainda que não era incomum vê-los, peripatéticos, a conversar em voz baixa enquanto balançavam gravemente a cabeça.

E que os bons e velhos sábios haviam constatado que a Lua estava não só muito pálida, como envolta num permanente halo de tristeza. E que mirava o Mundo com olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros – ela que por milênios mantivera a mais virginal reserva – que não havia como duvidar: a Lua estava pura e simplesmente apaixonada. Sua crescente palidez, aliada a uma minguante serenidade e compostura no seu noturno nicho, induzia uma só conclusão: tratava-se de uma Lua nova, de uma Lua cheia de amor, de uma Lua que precisava dar. E a Lua queria dar-se justamente àquele de quem era a única escrava e que, com desdenhosa gravidade, mantinha-a confinada em seu espaço próprio, usufruindo apenas de sua luz e dando azo a que ela fosse motivo constante de poemas e canções de seus menestréis, e até mesmo de ditos e graças de seus bufões, para distraí-lo em suas periódicas hipocondrias de madurez.

Pois não é que ao descobrirem que era o Mundo a causa do sofrimento da Lua, puseram-se os bons e velhos sábios a dar gritos de júbilo e a esfregar as mãos, piscando-se os olhos e dizendo-se chistes que, com toda franqueza, não ficam nada bem em homens de saber... Mas o que se há de fazer? Frequentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância. Por isso perdoemos aos bons e velhos sábios, que se assim faziam é porque tinham descoberto os males da Lua, que eram males de amor. E males de amor curam-se com o próprio amor – eis o axioma científico a que chegaram os eruditos anciãos, e que escreveram no final de um longo pergaminho crivado de números e equações, no qual fora estudado o problema da crescente palidez da Lua.

(Vinícius de Moraes. Para viver um grande amor)


1. Na oração “A mim, contaram-me o seguinte” (1º §), a repetição do pronome de 1ª pessoa do singular constitui:

a) um descuido de estilo do autor, gramaticalmente incorreto.

b) um recurso discursivo para chamar a atenção do leitor para a história a ser narrada.

c) um expediente literário para dar início a uma narrativa.

d) uma redundância enfática comum a textos literários.

e) um pleonasmo estilisticamente indispensável.


2. No fragmento “a Lua estava não só muito pálida, como envolta num permanente halo de tristeza” (2º §), as duas orações foram estruturadas pelo processo de:

a) correlação, em sentido aditivo.

b) subordinação, em sentido temporal.

c) coordenação, em sentido alternativo.

d) correlação, em sentido adversativo.

e) coordenação, em sentido conformativo.

 

3. O sinal de pontuação dois pontos empregado no fragmento “que não havia como duvidar: a Lua estava pura e simplesmente apaixonada” (2º §) exprime um(a):

a) citação.

b) enumeração.

c) esclarecimento.

d) descrição.

e) fala em discurso direto.


4. O fragmento “um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes” (1º §), do ponto de vista da tipologia textual, tem predominantemente características:

a) narrativas.

b) descritivas.

c) argumentativas.

d) injuntivas.

e) dissertativas.


5. Na expressão “bons e velhos sábios”, classificam-se como adjetivos os vocábulos “bons” e “velhos”, e como substantivo o vocábulo “sábios”. Das opções abaixo, aquela em que o vocábulo “sábio” foi empregado como adjetivo, e não como substantivo, é:

a) Só havia um sábio na turma de velhos.

b) Só um sábio muito inteligente resolveria o problema.

c) Era um velho muito sábio.

d) O verdadeiro sábio sabe que nada sabe.

e) Ser um velho, sendo um sábio, é uma bênção.


6. “E que mirava o Mundo com olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros – ela que por milênios mantivera a mais virginal reserva – que não havia como duvidar” (2º §). Considerando-se o contexto em que estão sendo usados no fragmento transcrito acima, a opção em que os três conectivos sublinhados estão, respectivamente, classificados de forma correta é: 

a) conjunção subordinativa causal / conjunção subordinativa integrante / pronome relativo.

b) conjunção coordenativa explicativa / conjunção subordinativa concessiva / conjunção subordinativa integrante. 

c) pronome relativo / conjunção coordenativa conclusiva / conjunção subordinativa integrante. 

d) conjunção subordinativa comparativa / conjunção subordinativa consecutiva / conjunção coordenativa explicativa. 

e) conjunção subordinativa integrante / pronome relativo / conjunção subordinativa consecutiva. 


7. No fragmento “podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas” (3º §), o advérbio sublinhado pode ser substituído, sem alteração de sentido, por todos os abaixo relacionados, EXCETO por: 

a) debalde. 

b) também. 

c) ainda. 

d) até. 

e) inclusive. 


8. O texto narra o esforço de anciãos no sentido de explicar a razão da palidez crescente da Lua. "Depois de muito estudar e contemplar a Lua, chegaram à conclusão de que a Lua estava apaixonada pelo Mundo". Trata-se, portanto, de uma narrativa alegórica, pois os fatos, os pensamentos, as conclusões estão representados de forma figurada. Nesse sentido, pode-se afirmar que a figura de linguagem que melhor define essa alegoria é a: 

a) metonímia. 

b) hipérbole. 

c) personificação. 

d) catacrese. 

e) antítese. 



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